Desculpe Radamés…

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Tirar música de ouvido tem dessas coisas: às vezes a gente erra.
Na verdade mesmo quando se tem ela escrita em uma partitura a gente erra também, mas a probabilidade é menor.

Um pouco antes de gravar um CD eu estava ouvindo bastante Radamés Gnattali.
Não acho que ele tenha sido um compositor que tenha ficado no meio naquela velha discussão sobre erudito e popular, mas acho que foi um dos que fez muito bem as duas coisas. Gosto muito!

Comprei uma coletânia que continha dois CDs. Um deles era Radamés interpreta Radamés. Nele havia uma música que eu não conseguia parar de ouvir. Se chamava Zanzando em Copacabana. Essa gravação tinha uma formação de piano, bateria, baixo acústico, violão, cavaquinho e réco-réco.

Decidi gravar essa música. Paguei a bagatela de 500 reais à editora – sim, no geral para se gravar um CD com músicas que não são suas tem que se pagar por elas, e pagar caro! – e fui tocar o piano.
Como não tinha a partitura e nem tempo para conseguir, recorri a um dos recursos mais prazerosos e mais úteis que o início do aprendizado de música como autodidata pode deixar como herança: tirar tudo de ouvido. Tão prazeroso e útil quanto arriscado quando se quer tocar a música logo.
A minha gravação até que ficou legal por ter sido de uma primeira impressão com a música, mas logo depois de sair do estúdio descobri uma gravação de piano solo baseada nas partituras originais do Radamés e percebi que havia um monte de coisa que pensei que fosse improviso dele. Não era!
Percebi também que havia um monte de coisa que pensei que fosse floreio dele. Não era!
Bom, pelo menos coloquei os meus improvisos e os meus floreios na minha gravacão, certo? Não!
Na verdade sim, até fiz os meus improvisos e floreios, mas ouvia a gravação, comparava com as originais e não gostava. Por isso resolvi revisar o arranjo. De ouvido de novo.
Mas por que de ouvido de novo? É que se não tiver emoção não tem graça…!
E ficou igual à do Radamés? Não, certamente não ficou… mas deve ter ficado bem próxima… pelo menos foi o que minha filha Helena (3 anos) achou: coloquei o CD do Radamés para tocar no carro e quando chegou nessa música ela disse “Olha a música do papai!”.

Desculpe Radamés, mas tirar música de ouvido tem dessas coisas.

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